A defesa do consumo de três porções diárias de leite e derivados por todas as pessoas foi feita pela pesquisadora e nutricionista canadense Helen Bishop MacDonald, que esteve em Juiz de Fora para participar do “Fórum das Américas: Leite e Derivados”, organizado pela Embrapa Gado de Leite e integrado ao Congresso Nacional de Laticínios, que aconteceu na cidade entre os dias 12 e 15 deste mês.
Pesquisadora respeitada mundialmente, Helen foi ouvida pela Tribuna durante o evento e afirmou que o leite é um dos alimentos mais completos e o único que, se consumido rotineiramente, oferece cálcio na quantidade ideal para o organismo. A nutricionista ainda enumera uma série de vantagens do alimento em relação à prevenção de doenças. Segundo ela, o produto reduz o risco de obesidade, diabetes tipo 2, câncer de intestino e de mama, hipertensão e, nas mulheres, a tensão pré-menstrual.
A pesquisadora da Embrapa Rosangela Zoccal ressalta que os brasileiros consomem pouco o produto e afirma que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o consumo de, pelo menos, dois copos de leite por dia, o que equivale a cerca de 240 litros por ano. No entanto, o total disponível no país representa 120 litros anuais por pessoa. “Mas, no Brasil, o uso de produtos lácteos está relacionado com a renda, por isso, enquanto pouca gente consome mais que 120 litros, um grupo grande de pessoas ainda ingere muito menos do que isso.”
O doutor em ciência e tecnologia de alimentos e professor de tecnologia de leite e derivados do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG, Maximiliano Soares Pinto, e a nutróloga e endocrinologista Lívia Zimmermann também defendem o leite e explicam que têm mais motivos para falar a favor do consumo. “É importante na prevenção da osteopenia e osteoporose. E as proteínas do leite favorecem o transporte e absorção de íons como cobre e zinco. Como apresenta cálcio em grandes quantidades, possibilita a melhora da formação dos ossos e auxilia a recalcificação do esmalte dos dentes, prevenindo as cáries”, explica Lívia.
Alergia
Segundo Helen, o leite contém praticamente todos os nutrientes essenciais. “Talvez o ferro e a vitamina C sejam os únicos elementos que não estejam presentes.” Ela explica que apenas quem tem alergia não deve ingerir leite de vaca e derivados. “É importante diferenciar alergia a leite de intolerância à lactose.” A pesquisadora diz que, ao contrário do que muita gente pensa, a intolerância não ocorre em relação ao leite, por isso, há uma série de produtos que pode ser consumida. A opinião é compartilhada por Maximiliano. “O leite comum não é um alimento indicado para pessoas lactase deficientes (que têm intolerância à lactose), porque elas não conseguem produzir a enzima que possibilita a absorção da lactose. Mas, atualmente, já existe no mercado o leite delactosado. Outras opções são os leites fermentados e os queijos maturados que não possuem lactose.” Helen ressalta ainda que a manteiga e os queijos duros também podem ser consumidos. Já para quem tem alergia à proteína do leite de vaca, a opção é o leite de cabra e seus derivados. Em termos nutricionais, não há diferença significativa entre os dois tipos, mas, conforme Rosangela, o tamanho das moléculas de gordura do leite de cabra é menor, por isso o seu metabolismo é mais rápido.
O leite sempre foi relacionado à ideia de alimento gorduroso e que engorda, mas Helen também quer destruir esse pensamento. Ela esclarece que já existem programas nas escolas voltados para o combate à obesidade a partir da ingestão de lácteos. “Isso é justificado porque o leite e os derivados nos satisfazem mais e reduzem a necessidade de ingerir mais carboidratos.”
Conforme Helen, é muito comum as mulheres fazerem dieta e deixarem de tomar leite, “mas isso é um erro”, afirma. Ela justifica que a pessoa precisa consumir cálcio para perder e depois manter o peso, porque, normalmente, após fazer os regimes que eliminam os lácteos é comum que volte a ganhar peso. “A dieta diária das três porções de lácteos e uma dieta básica de outros alimentos garantem quantidade mais do que suficiente de cálcio.”
Outros estudos dizem que alimento não é essencial
Correntes contrárias à da pesquisadora canadense Helen Bishop MacDonald apontam que a ingestão do leite não é essencial, principalmente para os adultos. Esta é a opinião do gastroenterologista, cirurgião geral e do aparelho digestivo Vladimir Schraibman: “É uma opção de alimento. Não nego que tem muitos nutrientes, mas outros alimentos também têm, por isso, não é essencial na vida adulta. Um exemplo é que, em vários países orientais, como China e Índia, não se toma leite animal, e nem por isso eles têm índices maiores de osteoporose, por exemplo.”
Schraibman diz que carnes vermelhas, verduras escuras e algumas frutas são ricas em cálcio e ressalta que a vertente defensora do leite segue a tendência norte-americana. “Mais importante do que tomar leite para evitar uma série de problemas, é evitar o sedentarismo, o fumo e abusar da bebida alcoólica. Temos que lembrar ainda que os homens são os únicos mamíferos que bebem leite na fase adulta. Com o passar dos anos, o nosso organismo pode começar a perder a capacidade de digerir a lactose.”
Mas Helen rebate a opinião. De acordo com ela, é errado pensar que o leite integral só tem gordura e defender a substituição dos lácteos por alguns vegetais. “No caso do espinafre, realmente ele tem muito cálcio, mas também tem ácido oxálico, que se combina com minerais para formar um tipo de sal que o organismo não dissolve. Já o brócolis precisa ser consumido em grandes quantidades e o feijão também, seria preciso tomar cerca de dez copos para conseguir o equivalente em cálcio de um copo de leite.”
Produto pode ser substituido por derivados
Ao contrário do que muita gente pensa, é possível substituir o leite pela quantidade equivalente de derivados. Conforme a nutricionista e pesquisadora canadense Helen Bishop MacDonald, o ideal é o consumo do leite fluido e também dos derivados, como queijos e iogurtes. No entanto, como muita gente não gosta do sabor do leite, a troca de um produto por outro pode ser feita. “Os derivados, principalmente os queijos e leites fermentados, mantêm os mesmos benefícios do leite e possuem até algumas vantagens, como o baixo teor de lactose, no caso do queijo, e maior digestibilidade, no caso do iogurte”, confirma o professor do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG, Maximiliano Soares Pinto.
“O mais extraordinário é que pesquisas recentes desenvolvidas por importantes universidades e publicadas nos jornais científicos mais respeitados do mundo, como “The Lancet” e “New England Journal of Medicine”, revelam que os riscos de doenças cardíacas também são menores quando há consumo contínuo das três porções de leite e derivados por dia”, defende Helen. Para reduzir as chances de doenças cardíacas, a pesquisadora ressalta ser importante diminuir o consumo de carboidratos refinados e perder peso, mas não deixar de ingerir leite. “Não podemos dizer que quem consome essa quantidade de lácteos nunca terá doença cardíaca, porque também vai depender da genética e outros fatores. Mas as chances serão menores.”
Fonte: Tribuna de Minas /JF