Qualidade Microbiológica do Ar de um Laticínio
LOCALIZADO NO SUL DE MINAS
GERAIS E EFICÁCIA DE PRODUTOS DESINFETANTES

MICROBIOLOGICAL QUALITY AIR OF A DAIRY LOCATED IN SOUTHERN OF MINAS GERAIS AND
EFFICACY OF DISINFECTANT PRODUCTS

Autor: Daniela Preira Leão Co-autores: Vanessa Rios de Souza, Josiane Gonçalves Borges, Luís Roberto Batista

1. INTRODUÇÃO

O ambiente interno de laticínios é favorável ao desenvolvimento de fungos deterioradores e possíveis toxigênicos, sendo, entretanto necessário um rígido controle de higienização.
Para se obter um produto com qualidade, a correta higienização de todos os materiais, equipamentos, utensílios e superfícies se fazem necessário. A higienização é um procedimento que visa preservar a segurança e qualidade dos alimentos com relação às suas características sensoriais, nutricionais e higiênico – sanitárias, e que compreende duas etapas fundamentais: a limpeza e a desinfecção.
As principais razões para controlar o desenvolvimento de microrganismos são: prevenir a transmissão de doenças e infecções, evitar estragos e desperdício de alimentos, além de cumprir com o que determina a lei (HAZELWOOD & McLEAN, 1996).
A avaliação microbiológica do ar em laticínios fornece informações sobre a eficiência da Higienização. Quando a mesma não está sendo realizada de forma eficaz pode ocorrer proliferação de fungos deterioradores, podendo prejudicar a produção, gerando produtos de baixa Qualidade que podem por em risco a saúde de funcionários e dos consumidores, caso sejam colocados no mercado. Algumas soluções antimicrobianas têm sido estudadas já há algum tempo, por pesquisadores da área de higiene de alimentos. Entre elas, pode-se citar as soluções desinfetantes a base de cloro, compostos de amônia quaternária, ácidos orgânicos entre outros. O cloro, em suas várias formas, especialmente na de sais de hipoclorito, é um dos sanitizantes mais empregados nas indústrias de alimentos. São compostos eficientes e de baixo custo, tendo larga aplicação, largo Espectro e rápida ação (KIM ET al. 1999).
O presente trabalho teve como objetivo analisar a qualidade microbiológica do ar de um laticínio localizado na região sul do estado de Minas Gerais, bem como testar a eficiência dos desinfetantes hipoclorito de sódio e clorhexidina nos genêros Aspergillus e Penicilium.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Análises microbiologia do ar.

Foi utilizada a Técnica de Sedimentação em Placa, em 4 ambientes (Laboratório, Armazenamento, Ala de Processamento 1 e Ala de Processamento 2) onde as placas de Petri de 10cm contendo o meio de cultura DRBC (Dcicloram Rosa de Bengala Clorafenicol) permaneceram abertas por 15 minutos, em seguida foram transferidas para o Laboratório de Microbiologia de Alimentos/DCA/UFLA e incubadas a 25ºC por 5-7dias. Os resultados foram expressos em UFC/cm2/semana.

2.2 Obtenção de Aspergillus e Penicilium

Após a contagem, os fungos filamentosos foram purificados em meio extrato de malte agar à 25°C. Após a obtenção das culturas puras, isolados dos gêneros de Aspergillus e Penicilium foram identificados conforme Klich (2002) e Pitt (2000), respectivamente. A purificação e a identificação dos fungos filamentosos foi realizada no Laboratório de Microbiologia de Alimentos, no Departamento de Ciência dos Alimentos da Universidade Federal de Lavras.

2.3 Testes da eficiência dos desinfetantes

Nesta etapa foram os desinfetantes foram transferidos em diferentes concentrações para o meio de cultura CYA(Czapeck Yeast Agar) ainda líquido. As concentrações utilizadas foram com base nas indicações do fabricante, sendo que foram utilizados as concentrações de 0, 100, 300 e 500 ppm de hipoclorito de sódio e para clorhexidina foram utilizadas as concentrações de 0; 0,5; 1,0 e 1,5%. Em seguida, o meio de cultura contendo desinfetante foi transferido para a placa de petri e os esporos dos fungos de interesse foram inoculados.
As placas foram incubadas então a 25°C por seis dias. A eficiência dos desinfetantes foi avaliada medindo-se em milímetros crescimento micelial de cada isolado em cada uma das concentrações em cada sanitizante.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos ambientes analisados a Ala de Processamento 1 apresentou os maiores níveis de contaminação 497,7UFC/cm2/semana, seguida do Laboratório 162,0UFC/cm2/semana e Armazenamento 156,26 UFC/cm2/semana. Os gêneros identificados nestes Ambientes foram: Aspergillus, Penicillium, Cladosporium, Fusarium, Alternaria além de leveduras. As espécies de Aspergillus e Penicillium identificadas foram A. Flavus, A. Niger, P. citrinum, P. funiculosum, P. purpurogenum e P. solitum. Dentre as espécies identificadas o A. Flavus (Figura 1) pode produzir aflatoxinas, e o P. solitum (Figura 2) é um dos principais deterioradores de produtos lácteos, Com relação à eficiência do desinfetante hipoclorito de sódio pode-se verificar que na Grande maioria das vezes com o aumento da concentração houve uma diminuição do crescimento da colônia em questão (Quadro 1).

Já com relação à clorhexidina, quando usado na concentração indicada, pode-se verificar que este desinfetante foi extremamente mais eficiente que o hipoclorito de sódio. Com o aumento da concentração as colônias foram inibidas e/ou reduziu drasticamente seu crescimento micelial.
Pode-se perceber também que na concentração de 0,5% a clorhexidina já inibi completamente todas as espécies de Penicillium e a espécie Aspergillus niger. O fungo resistente a ação da clorhexidina foi o Aspergillus flavus, porém este ainda foi mais afetado pela clorhexidina do que pelo hipoclorito de sódio (Quadro 2).
Segundo Langsrud et. al (2003) a desinfecção na prática vai depender de um grande número fatores. Princípios elementares de higiene, como limpeza efetiva antes da desinfecção, uso da concentração recomendada do desinfetante, temperatura e tempo de contato e finalmente lavagem e secagem das superfícies após a desinfecção, na maioria dos casos preveni problemas contra bactérias resistentes. Se a resistência ocorrer, alternância de desinfetantes ou aumento nas concentrações dos mesmos, na maioria dos casos resolve o problema. Langsrud et al. (2003) afirma que a resistência de desinfetante na maioria dos casos pode ser evitada através da limpeza e desinfecção efetiva.

4 CONCLUSÃO

O ambiente interno da indústria de laticínio estudado apresentou um elevado nível de contaminação microbiológica principalmente com fungos dos gêneros Cladosporium, Penicillium e Aspergillus. Sendo que o gênero Penicillium contém espécies que são deterioradoras de produtos lácteos.
Com relação aos sanitizantes conclui-se que a clorhexidina foi o desinfetante mais eficiente contra as espécies de Aspergillus e Penicilliun isoladas de uma indústria de laticínios. E conclui-se também que a clorhexidina na concentração de 5000 ppm já é bastante eficiente contra os fungos.

ABSTRACT

The efficiency of disinfectants sodium hypochlorite and chlorhexidine was evaluated in colonies of fungi of the genera Aspergillus and Penicillium. The colonies were first collected in different wards of a dairy processing located in the city of Lavras-MG by the technique of sedimentation plate. After isolation and identification of species of interest (Aspergillus and Penicillium) the sanitizers were tested at concentrations of 0, 100, 300 and 500 ppm for sodium hypochlorite and 0, 0.50, 1.00 and 1.50% for chlorhexidine. After 6 days of incubation of the colonies containing disks of filter paper with different concentrations of both sanitizers mycelial growth of the colony was measured in millimeters. The results showed that chlorhexidine was more effective disinfectant.
HAZELWOOD, D. & McLEAN, A.C. Manual de higiene para manipuladores de alimentos. São Paulo: Varela, 1996.
KIM, J.G.; YOUSEF, E. and DAVE, S. Application of ozone for enhancing the microbiological safety and quality of foods: a review. Journal of food protection, v. 62, n. 9, p. 1071-1087, 1999.
LUNGSRUD, S.; DIDHU, M. S.; HEIR, E.;HOLK, A. L. Bacterial desinfectant resistance – a challeng for the food industry. International Biodeterioration & Biodegradations. 2003.
PITT, J. I. A laboratory guide to common Penicillium species. North Ryde: CSIRO; 2000. 197p.

KLICH, M. A. Identification of Common Aspergillus species. Centraalbureau voor Schimmelculture. The Netherlands. 2002.

TABELA 1: Crescimento micelial médio em milímetros mediante hipoclorito de sódio e suas
respectivas concentrações em 6 dias

Fungos 0 ppm 100 ppm 300 ppm 500 ppm
A. flavus 64,11 61,89 60,33 59,77
A. niger 76 72,91 70,29 71,16
P. purpurogenum 22,01 21,83 20,58 19,00
P. sulston 18,33 17,33 16,67 16,00
P. funiculosum 9,66 9,00 8,75 5,83
P. citrinum 11,45 11,00 11,33 7,33

TABELA 2: Crescimento micelial médio em milímetros mediante clorhexidina
e suas respectivas concentrações em 6 dias

Fungos 0 % 0,5 % 1,0% 1,5%

A. flavus 51,61 47,11 39,55 11,22
A. niger 65,77 0 0 0
P. purpurogenum 18,83 0 0 0
P. solitum 21,00 0 0 0
P. funiculosum 10,33 0 0 0
P. citrinum 12,33 0 0 0


FIGURA 1. Fungos isolados da análise do ar do laticínio. a) A. flavos. b) P. solitum.

Fonte: EPAMIG 27 CONGRESSO DE LATICÍNIOS
Sala de aula - Técnico Laticínios - Artigos
Mafraweb - Desenvolvimento de sites e soluções web