Falta de conhecimento dificulta o diagnóstico da hepatite C, alertam especialistas
No ano em que se completam 20 anos da descoberta do vírus da hepatite C, pouco há o que se comemorar no Brasil. Segundo especialistas, estima-se que até três milhões de brasileiros – ou cerca de 1,5% da população – estejam infectados com a doença. E dados do Ministério da Saúde mostram que a cirrose hepática causada pela hepatite C está entre as doenças que mais matam no País.
De acordo com o médico infectologista Evaldo Stanislau Affonso de Araújo, do Hospital das Clínicas de São Paulo, o maior culpado pelo grande peso da doença na população, além do fato de ela ser uma doença silenciosa – podendo permanecer no organismo durante anos sem apresentar sintomas –, é a falta de conhecimento sobre a infecção.
“A falta de conhecimento sobre a infecção, durante anos, vitimou as pessoas de forma silenciosa, permitindo a progressão da doença”, explica o especialista, destacando a necessidade de campanhas nacionais para esclarecimento à população.
Até o ano de 1992, no Brasil, o sangue recebido nos hospitais destinado às transfusões não era testado. Por esse motivo, avalia-se que muitas pessoas com mais de 50 anos que tenham recebido transfusão durante esse período possam estar infectadas sem saber. “O que temos, na verdade, são novos diagnósticos de infecções antigas. Assim, novas infecções, hoje em dia, só ocorrem em quem mantém uma atitude de risco”, afirma Stanislau.
Os especialistas destacam que a realização de exame preventivo ainda é a forma mais eficaz de diagnosticar a doença. E as formas mais prováveis de contaminação são o contato compartilhado com objetos e instrumentos contendo resíduos de sangue (estúdios de tatuagem, salões de beleza, ou em consultórios da área de saúde onde não exista uma esterilização adequada).
“Com o controle do sangue, boa vigilância sobre os estabelecimentos que trabalham com instrumentos de risco, e práticas educativas para reduzir o uso de drogas ilícitas, o número de novas infecções tende a cair. Recomendo, enfaticamente, a todos que se identificam com atitudes de risco, que façam a sorologia para hepatite C”, finaliza o médico infectologista.